A palavra de ordem em Cuba é <em>Coragem!</em>
Menos de uma semana depois de o presidente norte-americano George W. Bush, numa intervenção que raiou o absurdo, ter elevado a fasquia das ameaças a Cuba a um nível sem precedentes, a Assembleia Geral da ONU aprovou por esmagadora maioria uma resolução exigindo o fim do bloqueio económico imposto por Washington a Havana há quase meio século.
A favor de Cuba pronunciaram-se 184 dos 192 estados-membros; contra, votaram os EUA, Israel, Ilhas Marshal e Palau. Registou-se ainda uma abstenção.
É a 16.ª vez que desde 1992 a ONU repudia o bloqueio, imposto a Cuba por John Kennedy depois da tentativa de invasão da Baía dos Porcos, operação fracassada conduzida pela CIA em 1962 para tentar derrubar o governo revolucionário liderado por Fidel Castro. Sucessivamente reforçado pelas diferentes administrações norte-americanas, com especial destaque para a lei Helms-Burton de 1996, o bloqueio suscita o repúdio cada vez maior da comunidade internacional, como testemunha a resolução aprovada a 30 de Outubro. Os EUA rangem os dentes mas não alteram a sua política: a resolução não é vinculativa, e mesmo que fosse, o conceito de democracia da Casa Branca não passa pelo respeito da vontade da maioria.
O bloqueio a Cuba – e não embargo como por vezes se diz – é um exemplo elucidativo da prepotência norte-americana. Em causa não está apenas – e já seria muito – a relação entre dois estados; em causa está o total desrespeito pelos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e reconhecidos pelo direito internacional, nomeadamente, a liberdade de comércio e navegação, já que os EUA se arrogam o «direito» de punir as empresas estrangeiras que negoceiem com Cuba e que desenvolvam actividade ou pretendam vir a fazê-lo nos EUA.
Os resultados desta política raramente merecem honras de primeira página, o que está longe de ser inocente, pois basta um punhado de exemplos para tornar claro a que ponto chega o ódio do imperialismo contra um país e um povo que simplesmente não aceitam submeter-se aos seus ditames.
Vejamos alguns casos ocorridos apenas entre Maio de 2006 e Maio de 2007.
• O Banco Netherlands Caribbean viu as suas contas congeladas nos EUA e foi proibido de realizar qualquer transação respeitante a cidadãos ou empresas norte-americanas;
• A empresa britânica PSL Energy Service foi multada por exportar para Cuba equipamentos e serviços para a indústria do petróleo;
• Cuba está impossibilitada de comprar uma série de equipamentos ou produtos porque as empresas que os produzem foram adquiridas pelos EUA; é o caso dos compressores da marca Sabroe, da Dinamarca, ou dos equipamentos de anestesia e monitorização da empresa finlandesa Datex-Ohmeda;
• Cuba não pôde comprar um espectrofotómetro infravermelho à empresa japonesa Shimadzu porque o equipamento tem mais de 10 por cento de componentes norte-americanos;
• Em finais de 2006, a companhia de cruzeiros espanhola Pullmantur foi comprada pela norte-americana Royal Carabbean, pelo que o cruzeiro Holiday Dream, propriedade da primeira, teve de suspender as suas operações em Cuba;
• Em Dezembro do ano passado, a gerência do Hotel Scandic, da Noruega, cancelou as reservas de uma delegação cubana porque as instalações foram compradas pela cadeia norte-americana Milton;
• No último ano, mais de uma vintena de bancos de diversos países foram ameaçados e pressionados a interromper qualquer tipo de relação ou transação com Cuba. Esta medida insere-se na guerra sem quartel movida pelo Departamento do Tesouro dos EUA contra as relações de Cuba com instituições financeiras e bancárias de outros países, o que se tornou possível desde que a administração norte-americana passou a aceder à informação confidencial da Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais;
• No último ano, pelo menos 30 países foram afectados pela extraterritorialidade desta política de Washington, entre os quais se contam a Alemanha, a Austrália, o Brasil, Canadá, Reino Unido, Suécia, Espanha, Japão e México;
• Num cálculo por baixo, o bloqueio provocou a Cuba perdas de mais de 89 mil milhões de dólares, o que ao valor actual da moeda representa pelo menos 222 mil milhões de dólares.
Uma política de genocídio
Os exemplos atrás referidos foram divulgados a 30 de Outubro pelo ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Pérez Roque, perante a Assembleia Geral da ONU. Por mais bárbaros que pareçam, esses casos estão longe de traduzir a extensão dos sacrifícios que os cubanos são forçados a sofrer.
Na verdade, como disse Pérez Roque, o que os EUA pretendem é forçar os cubanos a render-se pela fome e pela doença.
Só assim se explica, por exemplo, que a administração Bush recuse a Cuba a possibilidade de comprar o fármaco Sevorane, da companhia norte-americana Abbot, considerado actualmente o melhor para a anestesia geral pediátrica, ou um aparelho da empresa Saint-Jude necessário a crianças com arritmias cardíacas.
Só assim se explica, também, o encarniçamento com que se tenta eliminar as relações entre os povos cubano e norte-americano, bem como as normais relações familiares entre cubanos residentes de um e do outro lado do estreito da Florida. As multas previstas para os infractores vão desde um milhão de dólares para as empresas a 250 mil dólares para os indivíduos, para além de penas de prisão até 10 anos.
Entre as vítimas desta política demente contam-se os cineastas Oliver Stone e Michael Moore, o primeiro já multado «em nome da liberdade» por ter ido a Cuba filmar os documentários Comandante e Procurando Fidel, e o segundo a ser investigado por ter igualmente viajado até Cuba para fazer o documentário Sicko. E também um vasto leque de artistas cubanos, que desde Dezembro de 2006 viram cancelados os seus contratos com os hotéis das cadeias Ritz, Carlton, Milton e Marriot para quem trabalhavam temporariamente em todo o mundo, por ordens expressas do governo dos EUA.
Em qualquer dos casos o objectivo é o mesmo: impedir as autoridades cubanas de prestar a melhor assistência à população e reduzir ao máximo (ou mesmo eliminar) toda e qualquer forma de financiamento público ou particular.
A factura, essa, é paga pelo povo cubano, que apesar dos pesares – como assinalou o relator do Programa Alimentar das Nações Unidas, Jean Ziegler, em recente visita a Havana –, tem sabido lidar com muita criatividade com as limitações e sofrimento resultantes do bloqueio. Actualmente, 71 mil crianças cubanas com problemas nutricionais estão a receber gratuitamente um reforço alimentar.
A «liberdade» segundo Bush
O discurso sobre Cuba proferido por Bush no passado dia 24 de Outubro não pode ser visto, apesar da caricatura que faz daquele país, como mero fruto de uma mente doente e cega pelo ódio irracional. Antes se trata do anúncio de mais bloqueio, mais agressão, mais e renovados meios para tentar submeter Cuba. A confirmá-lo, na resposta oficial que as autoridades cubanas deram ao presidente norte-americano – em conferência de imprensa de Pérez Roque a que assistiram todos os meios da imprensa nacional e 61 correspondentes de 45 órgãos de comunicação de 17 países – foram lembradas algumas etapas da escalada de agressão levada a cabo pelo actual inquilino da Casa Branca.
Vejamos o que tem vindo a dizer Bush.
Janeiro de 2004 – Há que «trabalhar para uma transição rápida e pacífica em Cuba»; Fevereiro de 2004 – O objectivo da política norte-americana é «a transição rápida e pacífica para uma democracia»; Maio de 2004 – É preciso «acelerar o dia em que Cuba será um país livre»; Outubro de 2004 - « O povo cubano deveria ser libertado»; Agosto de 2006 – Depois da «libertação», os «cubano-americanos poderão empenhar-se na questão da confiscação de propriedades», ou seja, «poderão então, uma vez que nós libertemos Cuba, tratar de recuperar as vossas antigas propriedades»; Junho de 2007 - «Continuaremos a pressionar para a libertação de Cuba» e «Alguns dirão que o problema é a estabilidade em Cuba. Eu considero que temos que pressionar fortemente para a democracia»; Outubro de 2007 – «A palavra de ordem nas nossas futuras questões com Cuba não é a estabilidade, a palavra de ordem é a liberdade».
Seria fastidioso continuar, mas ninguém de boa fé pode deixar de se questionar com que legitimidade Bush – que nem a nível interno tem qualquer credibilidade, já que 75 por cento dos norte-americanos desaprovam a sua administração – apela à sublevação das forças armadas e policiais de um país soberano (prometendo poupar-lhes a vida se escolherem o «lado certo» a tempo) e à criação de um movimento global contra Cuba, ao mesmo tempo que anuncia mais fundos para a contra-revolução.
Segundo as autoridades de Havana – e os EUA não desmentiram – só no ano passado foram gastos nove milhões de dólares dos contribuintes norte-americanos para pagar os serviços de mercenários cubanos. Este ano, o montante sobe para 45 milhões.
Enquanto isso, no seu discurso, Bush tentou aliciar a juventude com duas promessas no mínimo ridículas: prometeu autorizar organizações não governamentais a oferecer computadores a Cuba, com acesso à Internet, caso o governo cubano o permita; e «convidou» jovens cubanos para um programa de bolsas de estudo com duração de três anos.
Pode ser que tais promessas tenham sentido para alguns países, mas que sentido podem ter para Cuba e para os cubanos que, apesar do bloqueio que os impede de comprar no mercado internacional computadores que tenham componentes norte-americanos ou sejam de origem norte-americana, dispõem já hoje de 500 000 computadores instalados, têm previsto para o próximo ano mais 150 000 e contam, a partir de 2008, estar em condições de produzir no país 120 000 novos computadores por ano?
Que sentido fará tal promessa quando existem hoje no país 602 Joven Club com mais de 7000 computadores que dão acesso gratuito à Internet a mais de dois milhões de cubanos por ano, e quando nos últimos anos se formaram 1 300 000 jovens em 32 cursos diferentes de informática, gratuitos, que funcionam 24 horas por dia e incluem até programas especiais para cegos, pessoas com necessidades especiais e idosos?
Que sentido fará uma promessa de bolsas de estudo num país que tem 65 universidades onde se ministram 99 cursos universitários e onde estudam actualmente 730 000 jovens (69 em cada 100 em idade de frequentar a universidade, a mais alta taxa do Terceiro Mundo e uma excelente média mesmo quando comparada com a dos chamados países desenvolvidos), sendo que 70 000 são bolseiros, e que para além de tudo isto ainda acolhe 30 000 jovens de 120 países, 23 000 dos quais estudando medicina?
A administração Bush, que em nome da «liberdade» congela fundos de bibliotecas cubanas e impede Cuba de comprar livros e outros meios de cultura nos EUA, nunca poderá perceber que uma «ditadura» se empenhe tanto na formação e educação do seu povo. Não é uma questão de conceitos, é uma questão de filosofia de vida. Uns apostam na exploração, outros na construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados. Por isso a palavra de ordem em Cuba, por mais que os EUA o não entendam, é Coragem!
(*) Com Prensa Latina
É a 16.ª vez que desde 1992 a ONU repudia o bloqueio, imposto a Cuba por John Kennedy depois da tentativa de invasão da Baía dos Porcos, operação fracassada conduzida pela CIA em 1962 para tentar derrubar o governo revolucionário liderado por Fidel Castro. Sucessivamente reforçado pelas diferentes administrações norte-americanas, com especial destaque para a lei Helms-Burton de 1996, o bloqueio suscita o repúdio cada vez maior da comunidade internacional, como testemunha a resolução aprovada a 30 de Outubro. Os EUA rangem os dentes mas não alteram a sua política: a resolução não é vinculativa, e mesmo que fosse, o conceito de democracia da Casa Branca não passa pelo respeito da vontade da maioria.
O bloqueio a Cuba – e não embargo como por vezes se diz – é um exemplo elucidativo da prepotência norte-americana. Em causa não está apenas – e já seria muito – a relação entre dois estados; em causa está o total desrespeito pelos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e reconhecidos pelo direito internacional, nomeadamente, a liberdade de comércio e navegação, já que os EUA se arrogam o «direito» de punir as empresas estrangeiras que negoceiem com Cuba e que desenvolvam actividade ou pretendam vir a fazê-lo nos EUA.
Os resultados desta política raramente merecem honras de primeira página, o que está longe de ser inocente, pois basta um punhado de exemplos para tornar claro a que ponto chega o ódio do imperialismo contra um país e um povo que simplesmente não aceitam submeter-se aos seus ditames.
Vejamos alguns casos ocorridos apenas entre Maio de 2006 e Maio de 2007.
• O Banco Netherlands Caribbean viu as suas contas congeladas nos EUA e foi proibido de realizar qualquer transação respeitante a cidadãos ou empresas norte-americanas;
• A empresa britânica PSL Energy Service foi multada por exportar para Cuba equipamentos e serviços para a indústria do petróleo;
• Cuba está impossibilitada de comprar uma série de equipamentos ou produtos porque as empresas que os produzem foram adquiridas pelos EUA; é o caso dos compressores da marca Sabroe, da Dinamarca, ou dos equipamentos de anestesia e monitorização da empresa finlandesa Datex-Ohmeda;
• Cuba não pôde comprar um espectrofotómetro infravermelho à empresa japonesa Shimadzu porque o equipamento tem mais de 10 por cento de componentes norte-americanos;
• Em finais de 2006, a companhia de cruzeiros espanhola Pullmantur foi comprada pela norte-americana Royal Carabbean, pelo que o cruzeiro Holiday Dream, propriedade da primeira, teve de suspender as suas operações em Cuba;
• Em Dezembro do ano passado, a gerência do Hotel Scandic, da Noruega, cancelou as reservas de uma delegação cubana porque as instalações foram compradas pela cadeia norte-americana Milton;
• No último ano, mais de uma vintena de bancos de diversos países foram ameaçados e pressionados a interromper qualquer tipo de relação ou transação com Cuba. Esta medida insere-se na guerra sem quartel movida pelo Departamento do Tesouro dos EUA contra as relações de Cuba com instituições financeiras e bancárias de outros países, o que se tornou possível desde que a administração norte-americana passou a aceder à informação confidencial da Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais;
• No último ano, pelo menos 30 países foram afectados pela extraterritorialidade desta política de Washington, entre os quais se contam a Alemanha, a Austrália, o Brasil, Canadá, Reino Unido, Suécia, Espanha, Japão e México;
• Num cálculo por baixo, o bloqueio provocou a Cuba perdas de mais de 89 mil milhões de dólares, o que ao valor actual da moeda representa pelo menos 222 mil milhões de dólares.
Uma política de genocídio
Os exemplos atrás referidos foram divulgados a 30 de Outubro pelo ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Pérez Roque, perante a Assembleia Geral da ONU. Por mais bárbaros que pareçam, esses casos estão longe de traduzir a extensão dos sacrifícios que os cubanos são forçados a sofrer.
Na verdade, como disse Pérez Roque, o que os EUA pretendem é forçar os cubanos a render-se pela fome e pela doença.
Só assim se explica, por exemplo, que a administração Bush recuse a Cuba a possibilidade de comprar o fármaco Sevorane, da companhia norte-americana Abbot, considerado actualmente o melhor para a anestesia geral pediátrica, ou um aparelho da empresa Saint-Jude necessário a crianças com arritmias cardíacas.
Só assim se explica, também, o encarniçamento com que se tenta eliminar as relações entre os povos cubano e norte-americano, bem como as normais relações familiares entre cubanos residentes de um e do outro lado do estreito da Florida. As multas previstas para os infractores vão desde um milhão de dólares para as empresas a 250 mil dólares para os indivíduos, para além de penas de prisão até 10 anos.
Entre as vítimas desta política demente contam-se os cineastas Oliver Stone e Michael Moore, o primeiro já multado «em nome da liberdade» por ter ido a Cuba filmar os documentários Comandante e Procurando Fidel, e o segundo a ser investigado por ter igualmente viajado até Cuba para fazer o documentário Sicko. E também um vasto leque de artistas cubanos, que desde Dezembro de 2006 viram cancelados os seus contratos com os hotéis das cadeias Ritz, Carlton, Milton e Marriot para quem trabalhavam temporariamente em todo o mundo, por ordens expressas do governo dos EUA.
Em qualquer dos casos o objectivo é o mesmo: impedir as autoridades cubanas de prestar a melhor assistência à população e reduzir ao máximo (ou mesmo eliminar) toda e qualquer forma de financiamento público ou particular.
A factura, essa, é paga pelo povo cubano, que apesar dos pesares – como assinalou o relator do Programa Alimentar das Nações Unidas, Jean Ziegler, em recente visita a Havana –, tem sabido lidar com muita criatividade com as limitações e sofrimento resultantes do bloqueio. Actualmente, 71 mil crianças cubanas com problemas nutricionais estão a receber gratuitamente um reforço alimentar.
A «liberdade» segundo Bush
O discurso sobre Cuba proferido por Bush no passado dia 24 de Outubro não pode ser visto, apesar da caricatura que faz daquele país, como mero fruto de uma mente doente e cega pelo ódio irracional. Antes se trata do anúncio de mais bloqueio, mais agressão, mais e renovados meios para tentar submeter Cuba. A confirmá-lo, na resposta oficial que as autoridades cubanas deram ao presidente norte-americano – em conferência de imprensa de Pérez Roque a que assistiram todos os meios da imprensa nacional e 61 correspondentes de 45 órgãos de comunicação de 17 países – foram lembradas algumas etapas da escalada de agressão levada a cabo pelo actual inquilino da Casa Branca.
Vejamos o que tem vindo a dizer Bush.
Janeiro de 2004 – Há que «trabalhar para uma transição rápida e pacífica em Cuba»; Fevereiro de 2004 – O objectivo da política norte-americana é «a transição rápida e pacífica para uma democracia»; Maio de 2004 – É preciso «acelerar o dia em que Cuba será um país livre»; Outubro de 2004 - « O povo cubano deveria ser libertado»; Agosto de 2006 – Depois da «libertação», os «cubano-americanos poderão empenhar-se na questão da confiscação de propriedades», ou seja, «poderão então, uma vez que nós libertemos Cuba, tratar de recuperar as vossas antigas propriedades»; Junho de 2007 - «Continuaremos a pressionar para a libertação de Cuba» e «Alguns dirão que o problema é a estabilidade em Cuba. Eu considero que temos que pressionar fortemente para a democracia»; Outubro de 2007 – «A palavra de ordem nas nossas futuras questões com Cuba não é a estabilidade, a palavra de ordem é a liberdade».
Seria fastidioso continuar, mas ninguém de boa fé pode deixar de se questionar com que legitimidade Bush – que nem a nível interno tem qualquer credibilidade, já que 75 por cento dos norte-americanos desaprovam a sua administração – apela à sublevação das forças armadas e policiais de um país soberano (prometendo poupar-lhes a vida se escolherem o «lado certo» a tempo) e à criação de um movimento global contra Cuba, ao mesmo tempo que anuncia mais fundos para a contra-revolução.
Segundo as autoridades de Havana – e os EUA não desmentiram – só no ano passado foram gastos nove milhões de dólares dos contribuintes norte-americanos para pagar os serviços de mercenários cubanos. Este ano, o montante sobe para 45 milhões.
Enquanto isso, no seu discurso, Bush tentou aliciar a juventude com duas promessas no mínimo ridículas: prometeu autorizar organizações não governamentais a oferecer computadores a Cuba, com acesso à Internet, caso o governo cubano o permita; e «convidou» jovens cubanos para um programa de bolsas de estudo com duração de três anos.
Pode ser que tais promessas tenham sentido para alguns países, mas que sentido podem ter para Cuba e para os cubanos que, apesar do bloqueio que os impede de comprar no mercado internacional computadores que tenham componentes norte-americanos ou sejam de origem norte-americana, dispõem já hoje de 500 000 computadores instalados, têm previsto para o próximo ano mais 150 000 e contam, a partir de 2008, estar em condições de produzir no país 120 000 novos computadores por ano?
Que sentido fará tal promessa quando existem hoje no país 602 Joven Club com mais de 7000 computadores que dão acesso gratuito à Internet a mais de dois milhões de cubanos por ano, e quando nos últimos anos se formaram 1 300 000 jovens em 32 cursos diferentes de informática, gratuitos, que funcionam 24 horas por dia e incluem até programas especiais para cegos, pessoas com necessidades especiais e idosos?
Que sentido fará uma promessa de bolsas de estudo num país que tem 65 universidades onde se ministram 99 cursos universitários e onde estudam actualmente 730 000 jovens (69 em cada 100 em idade de frequentar a universidade, a mais alta taxa do Terceiro Mundo e uma excelente média mesmo quando comparada com a dos chamados países desenvolvidos), sendo que 70 000 são bolseiros, e que para além de tudo isto ainda acolhe 30 000 jovens de 120 países, 23 000 dos quais estudando medicina?
A administração Bush, que em nome da «liberdade» congela fundos de bibliotecas cubanas e impede Cuba de comprar livros e outros meios de cultura nos EUA, nunca poderá perceber que uma «ditadura» se empenhe tanto na formação e educação do seu povo. Não é uma questão de conceitos, é uma questão de filosofia de vida. Uns apostam na exploração, outros na construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados. Por isso a palavra de ordem em Cuba, por mais que os EUA o não entendam, é Coragem!
(*) Com Prensa Latina